O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sábado, 30 de abril de 2011

Cineclube Cinefusão exibe "Gadjo Dilo", do diretor argelino Tony Gatlif



No próximo domingo, dia 08 de maio, às 18h30, o Cineclube Cinefusão exibe o belo "Gadjo Dilo", do diretor argelino Tony Gatlif.

O filme narra a jornada de Stéphane, um jovem francês que viaja para a Romênia em busca da cantora cigana Nora Luca, a quem o seu pai ouvia o tempo todo antes de morrer. 

Talvez, Tony Gatlif seja o diretor que melhor se enquadre na nossa proposta de apresentar um ciclo denominado "cinema e culturas marginais". O argelino/cigano se debruça sobre minorias excluídas e propõe uma arte libertária. O seu cinema de deslocamentos é a síntese do artista que também se vê em uma busca angustiante, mas é interrompido pelos hiatos reacionários. 

Portanto, a exibição dá sequência ao ciclo que pretende apresentar um panorama de filmes realizados por cineastas de culturas não tão conhecidas e distantes de um senso comum, marcado pelo ocidentalismo europeu e estadunidense, que produz o cinema comercial que é divulgado massivamente. Assim, serão priorizadas obras que nasceram no âmago dessas culturas ou que abordem o modo de vida delas. Esperamos com o ciclo, trazer uma possibilidade de trocas e, principalmente, à luz da barbárie neoliberal, discutir sem qualquer tipo de preconceitos quais são as motivações que levam as sociedades a concepções de mundo tão distintas. A sessão é gratuita e acontece à rua Augusta, 1239, conj 13 e 14.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A MÍDIA RAINHA

Finalmente, encontro um artigo, que analisa o casamento do príncipe com a plebeia através de uma outra lente, essa sim realista, sem a porra (com o perdão da palavra) da demagogia escrota que a imprensa burguesa atira nas nossas caras. O bom é que a imprensa brasileira é o melhor espaço para discutirmos o papel nefasto que cumpre a mídia e a cultura de massa. Tive a profunda tristeza (e aqui não estou sendo demagogo e muito menos pretensioso) de ver algumas pessoas pararem tudo o que estavam fazendo para ver na televisão o "beijo real" - aspas de uma senhorita que encontrei hoje. Tomo a liberdade de postar abaixo sem pedir emprestado o belo texto de Walter Hupsel. 

Deus Salve a Rainha

A história se repete: o filho do príncipe Charles, que casou com Lady Di – uma pessoa de fora da realeza (como me lembrou Antônio Luiz Costa) – no tal casamento do século, que acabou em traições e na trágica morte da princesa num túnel em Paris, William, se casou também com uma plebeia, e também no “casamento do século”.

A imprensa não fala de outra coisa, analisa os vestidos, o menu, a lista de convidados, a lista dos não-convidados. Fala também de custos da festança e do impacto econômico que o casamento terá. A Inglaterra foi tomada por uma epifania real-nacionalista. Todos, ou quase todos, esperando o grande momento de ter uma nova sucessora ao cargo de Elisabeth 2ª, Kate, para poderem cantar o hino britânico, “Deus Salve a Rainha” (God Save the Queen).

É a imagem, o símbolo. A monarquia britânica, desde quando Guilherme de Orange desembarcou em solo inglês vindo da Holanda, e destronou James 2º, a Inglaterra adotou uma forma esquisita de governo, uma forma mista, a monarquia parlamentar na qual a ‘Rainha reina, mas não governa”.

A despeito de ter sido uma saída estratégica numa Inglaterra que passava por um século de convulsões e guerras civis, os mais otimistas hoje apontam para o caráter simbólico da monarquia britânica, em que a Rainha seria, digamos assim, uma entidade que mantém unidos os diversos países que compõem a Grã-Bretanha, os menos crédulos chamam atenção para o anacronismo de se manter uma realeza que faça alguns banquetes e cace raposas. Para estes uma sociedade moderna e democrática teria que prescindir de qualquer titulo nobiliárquico (o senado inglês é, até hoje, chamado de “Casa dos Lordes”), de qualquer menção a súditos. Sim, na Inglaterra existem súditos do rei e não cidadãos.

Para quem se não lembra, aqui mesmo no Brasil tivemos um plebiscito em 1993 (que tinha sido previsto pela Constituição de 1988), no qual o povo deveria decidir sobre monarquia ou república parlamentarista ou presidencialista.

Ao lado da monarquia, estiveram figuras públicas como Hugo Carvana, Sandra de Sá e o antropólogo Roberto da Matta. Este justificava sua opção pela restauração da monarquia dizendo que o brasileiro a adora e, como explicação para sua posição, citava a forma que nos referimos ao “Rei” Roberto Carlos, “Rainha” Xuxa e “Rei” Pelé (?!?!?) . Segundo Da Matta, este era um sinal claro que somos órfãos de Orleans e Bragança.

Malograda a opção de termos nossa própria dinastia, de termos nossos casamentos suntuosos em Petrópolis, voltamos os olhos pra a velha Inglaterra. Sublimamos nossa vidinha republicana, olhamos com uma certa aura para esse casamento, da Família Real mais cara da Europa. Para a mulher, plebéia, que encarnará novamente o arquétipo feminino dos contos de fada, e casará com um príncipe.

Agora, ela terá a obrigação de gerar um herdeiro para os Windsor (e rápido, segundo manda a tradição), um novo futuro rei que também se casará no “casamento do século”, que também deve atrair a atenção mundial. Ela, a futura princesa e rainha, será um símbolo da Inglaterra e da submissão feminina. Apenas uma figura.

A ela meus mais sinceros desejos de boa sorte. Para ela, e para todos os ingleses, mando um “Deus Salve a Rainha”, mas na voz de Johnny Rotten.

God save the queen
She ain't no human being
There is no future
In England's dreaming




O vídeo abaixo é uma contribuição do amigo Erick Martorelli ao debate:

Sertão Mar - Ismail Xavier

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Reportagem do vídeo-ativista CarlosCarlos relembra a barbárie

INSCRIÇÕES GRATUITAS NO SEMINÁRIO INTERNACIONAL "REVOLUÇÕES: UMA POLÍTICA DO SENSÍVEL"

FONTEhttp://revolucoes.org.br/v1/seminario



O seminário trabalhará com a relação entre estética, política e história. Não no sentido estrito da propagação das posições de engajamento político dos artistas, mas no da produção de uma política do sensível (ou de uma “partilha do sensível”, para usarmos a expressão cunhada pelo filósofo francês Jacques Rancière).

A ideia de uma política do sensível opera como uma abertura ética, presente em uma obra de arte, que rompe com os lugares-comuns do cotidiano, esvaziado pelo espetáculo dos meios de comunicação em massa. Ao recolher criticamente a tradição revolucionária esquecida, os artistas criam as condições que permitem a produção de novos sentidos comuns, ativos e críticos. Assim, as clássicas revoluções sociais, antes vistas como questões datadas, esvaziadas de sua efetividade política, ganham força novamente.

Local: Teatro Paulo Autran - SESC-Pinheiros (Rua Paes Leme, 195, Pinheiros/SP)

Data: 20/05 e 21/05, a partir das 14h00
inscrições: no site www.revolucoes.org.br de 1 a 18 de maio
Mais informações: revolucoes@revolucoes.org.br

Festival Internacional de Dança nos parques da Paulista

FONTE E LINK DA NOTÍCIA ORIGINAL:  http://catracalivre.folha.uol.com.br/2011/04/curta-o-festival-internacional-de-danca-nos-parques-da-paulista/

Mais de trinta bailarinos de sete países mostram o que está sendo feito em dança  urbana pelo mundo. O palco escolhido para as apresentações foi o cartão-postal da cosmopolita São Paulo, a avenida Paulista, de 27 a 30 de abril.

O “VI Visões Urbanas – Festival Internacional de Dança em Paisagens Urbanas” divide 16 espetáculos gratuitos em três espaços: o jardim da Casa das Rosas e os parques Tenente Siqueira Campos, mais conhecido como Trianon, e Mario Covas.

Na abertura, uma geladeira, um homem (Mustafa Kaplan) e uma mulher (Filiz Sizanli), da companhia turca Taldans (pela primeira vez em São Paulo), fazem uma coreografia “a três” em Dolap, dia 27 às 11h30, no parque Mario Covas. Logo em seguida, cinco bailarinos da Proyecto La Casa, de Montevidéu, encenam um encontro fortuito entre estranhos.

A programação também inclui dois eventos, fora da avenida Paulista: a oficina de hip-hop (no estúdio Artesãos do Corpo, em Santa Cecília) e a exposição de fotos São Paulo – Cidade que Dança sobre as edições anteriores do festival, na Caixa Cultural – Sé. A relação completa dos programas pode ser conferida no site www.festivalvisoesurbanas.blogspot.com

Eldorado dos Carajás: “A sequela física é horrível, mas a psicológica é muito maior”

FONTE E LINK DA MATÉRIA ORIGINAL: http://www.viomundo.com.br/denuncias/eldorado-dos-carajas-a-sequela-fisica-e-horrivel-mas-a-psicologica-e-muito-maior.html


A repórter Manuela Azenha esteve recentemente em Eldorado dos Carajás, no Pará, para uma série de reportagens sobre a herança deixada por um dos incidentes mais brutais da disputa pela terra no Brasil. A seguir, o primeiro de uma série de relatos:

Era semana de festa no assentamento 17 de abril. Ainda que para homenagear as vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás, um dos episódios mais trágicos na história do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o clima era de confraternização e os convidados, recebidos com alegria.
O assentamento leva o nome da data do massacre, que ocorreu a 21 quilômetros dali, quinze anos atrás. Em marcha rumo a Belém, mais de mil sem-terra reivindicavam a desapropriação do complexo Macaxeira, terreno que hoje o assentamento ocupa. O ato culminou na morte de 19 camponeses, executados pela Polícia Militar em operação ordenada pelo governador Almir Gabriel (PSDB) e reforçada pelo secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, que autorizou o uso da força policial para retirar os manifestantes da rodovia.

Os sem-terra reagiram às bombas de gás lacrimogêneo com paus e pedras, ao que a PM respondeu disparando tiros. Segundo a perícia, no entanto, a maior parte das mortes ocorreu instantes depois do enfrentamento, quando os manifestantes já estavam rendidos. Fora os mortos, cerca de 70 manifestantes foram gravemente feridos e mutilados por armas brancas utilizadas pela polícia. Dos 154 policias denunciados pelo Ministério Público, apenas dois foram condenados: o coronel Mario Collares Pantoja e o major José Maria Pereira. Ambos aguardam em liberdade o fim do processo.

Desde então, o mês da tragédia é  chamado de abril vermelho e tornou-se principal período de lutas e ocupações do MST.

Durante os dias da semana do 17 de abril, foram organizadas oficinas de artes, plenárias e debates. Na praça central do assentamento, houve shows de música todas as noites. Foi inaugurada a biblioteca José Saramago, com fotos de Sebastião Salgado decorando as paredes. Saramago fazia parte da grande rede informal de apoiadores do MST no mundo, que inclui de Chico Buarque ao grupo Rage Against the Machine, do fotógrafo Salgado ao linguista Noam Chomsky.

No dia seguinte à inauguração da biblioteca foi lançado o livro de poesias de Diva Lopes, militante do movimento.

A programação encerrou-se no domingo, 17, dia em que centenas de sem-terra refizeram a marcha pela rodovia PA-150, até a curva do “S”, local do massacre. Quase todos jovens militantes, caminharam por aproximadamente três horas sob o sol, entoando palavras de ordem e cantorias.

O palanque na curva do “S”, onde os convidados fizeram seus discursos e dois shows foram apresentados, foi montado diante do monumento que marca o lugar da tragédia. Ali ficam dezenove troncos de castanheiras queimados, um para cada vítima fatal do massacre.

Para abrir o ato foi celebrada missa pelo bispo diocesano de Marabá, dom José Foralosso. Em seguida, diversos políticos discursaram, entre eles a senadora Marinor Brito (PSOL-PA), a deputada estadual Bernadete ten Caten (PT)e o prefeito de Eldorado dos Carajás, Genival Diniz Gonçalves.

“Na história de luta dos povos, foram se consolidando lugares sagrados. Lugares até os quais se caminha para abastecer-se de energia e continuar a luta. Esse é um lugar sagrado, junto a essas castanheiras. Lembramos do momento em que mataram à queima roupa nossos companheiros. Não podemos esquecer, não vamos descansar. Se nos calarmos, até as pedras gritarão!”, declarou João Pedro Stédile, da direção nacional do MST.


José Sebastião de Oliveira é  um dos muitos sobreviventes que vivem no assentamento 17 de abril. No dia do massacre, foi ferido na perna.

“Achava que eles estavam de brincadeira, só querendo nos assustar dando tiros para o alto. Foi quando vi meu colega deitado no chão, com a boca aberta. Foi o primeiro a cair e era do meu grupo”, conta. José não gosta de falar no assunto.

Segundo ele, recordar é sofrer duas vezes. Reclama que já falou muito a jornalistas, que insistem em contar a história com erros factuais. “Já vi jornal dizendo que o tiroteio começou à noite. Foi às cinco da tarde! Estava claro! Mas eles continuam dizendo isso…”

Quando perguntei a José sua idade, ele respondeu incerto. Seriam 53 ou 54 anos. Ao conferir com a esposa, ao lado, foi corrigido: na verdade, são 63. Ele reluta, mas relembra. As vítimas que conseguiram alguma indenização receberam menos do que tinham direito. O tratamento médico oferecido pelo governo também é considerado insuficiente.

Ao longo dos anos, cinco vítimas morreram entre um consulta e outra, em decorrência dos ferimentos recebidos no dia do massacre. Mas os danos mais graves muitas vezes são psicológicos. E persistem.

José diz que vai vai trabalhar esperando o dia em que os policiais voltarão para matá-lo. “Eram pistoleiros vestidos de policiais. Eu sei, olhei bem nos olhos deles, assim de pertinho! Outro dia encontrei um e voltei a olhar nos olhos dele. Como que não tem vergonha? Ele acha que eu não vou lembrar?”, se pergunta, emocionado.

“A escravidão nunca acabou, se não é no pão de cada dia, é no tratamento. Os fazendeiros continuam aí empregando trabalho escravo. Falo mesmo, a gente é tratado feito lixo”, esbraveja.

Josimar Pereira de Freitas preside há quatro anos a associação dos mutilados do massacre de Eldorado dos Carajás. Estava presente no dia 17 de abril e levou um tiro que lhe custou a perna direita.

Três levantamentos foram feitos para averiguar o número de mutilados. O Ministério Público chegou a 69, a Comissão Pastoral da  Terra, da Igreja Catíolica, contou 75. Mas, segundo os cálculos do MST, são mais de cem.

Entre as vítimas, vinte receberam uma indenização que varia de 25 a 93 mil reais. Essas pessoas foram cadastradas e seus pedidos encaminhados à Justiça. Com o passar do tempo, mais vítimas procuraram ajuda financeira, mas o prazo para que a Justiça analisasse os casos já tinha expirado.

“A gente nunca achou que isso pudesse acontecer: o próprio Estado partir para cima do povo. Também não acreditamos que depois conseguiríamos alguma coisa de indenização, por isso as pessoas foram se organizando aos poucos”, explica Josimar.

A governadora Ana Júlia Carepa, do Pará, reabriu o caso por decreto e mais 30 pessoas puderam receber indenização de 20 mil reais, valor acordado com a Justiça. Todas as vítimas devem receber também uma pensão vitalícia de 308 reais.

Ainda restam desaparecidos. Para Josimar existem duas hipóteses: os corpos foram esquartejados e escondidos por policiais ou as pessoas que faziam parte da manifestação fugiram da região para sempre.  “Nesses dias, como 17 de abril ou 7 de setembro, sempre aparece alguma mãe procurando um filho ou um filho em busca da mãe”, conta.

Josimar tira o sustento do lote de terra que cultiva no assentamento. Cria porcos, galinhas e bezerros. Cultiva milho, cana, arroz, entre outros produtos. Sem a perna, diz que sente terríveis dores nas costas.

“Imagina quando eu tenho de carregar um saco de 70 quilos de terra. Uma perna é falsa, então apóio todo o peso na outra e aí atrapalha o corpo inteiro. Como as minhas costas, por exemplo. A sequela física é horrível e vai piorando com os anos, mas a psicológica é muito maior”.

No assentamento 17 de abril vivem hoje 45 mutilados. “Muitos espalharam-se pela região, tiveram medo de voltar para cá. Eu não tenho medo. Para mim, foi aí que a luta começou”, declara Josimar.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Graffiti

fonte: Zupi


ARYZ, grafiteiro acostumado a deixar suas marcas pelas ruas da Espanha, sua terra natal, acaba de realizar mais um belo trabalho. Situada em Barcelona, a obra não deixa de apresentar o aspecto de decadência e degradação que permeira, de alguma forma, todas as suas outras composições. O local das criações, inclusive, ajudam a comunicar essa ideia, visto que o artista tem predileção por fábricas abandonadas.





Os adoradores de dinheiro e o deus mercado

Esse texto me chegou por intermédio do amigo e cineasta Silvio Tendler e acho que nós diz algo sobre o Deus Mercado que também é onipresente aqui no Brasil. O texto foi transcrito do vídeo que também segue abaixo. 



Discurso feito pelo jornalista Chris Hedges em Union Square, em 15 de abril passado, na cidade de Nova York, durante um protesto feito em frente a uma das agências do Bank of America.

Estamos aqui hoje em frente a um de nossos templos das finanças. Um templo no qual a cobiça e o lucro são os bens supremos, onde o valor de cada pessoa é determinado por sua capacidade de misturar riqueza e poder à custa de outras, onde as leis são manipuladas, se reescrevem e se violam, onde o ciclo infinito do consumo define o progresso humano, onde a fraude e os crimes são os instrumentos dos negócios.

As duas forças mais destrutivas da natureza humana – a cobiça e a inveja –impulsionam os homens de finanças, os banqueiros, os mandarins corporativos e os dirigentes de nossos dois principais partidos políticos, todos eles beneficiários deste sistema. Colocam-se no centro de sua criação. Desdenham ou ignoram os gritos dos que se encontram abaixo deles. Retiram nossos direitos e nossa dignidade e frustram nossa capacidade de resistência. Fazem-nos prisioneiros em nosso próprio país. Vêem os seres humanos e o mundo natural como simples mercadorias a serem exploradas até ao esgotamento e ao colapso. O sofrimento humano, as guerras, as mudanças climáticas, a pobreza, tudo serve ao custeio dos negócios. Nada é sagrado. O Senhor dos Lucros é o Senhor da Morte.

Os fariseus das altas finanças que podem nos ver esta manhã de suas salas e seus escritórios pelas esquinas debocham da virtude. A vida para eles só tem o significado do proveito próprio. O sofrimento dos pobres não os preocupa. As seis milhões de famílias expulsas de suas casas não os preocupam. As dezenas de milhões de aposentados, cujas economias para a aposentadoria foram anuladas pela fraude e pela desonestidade de Wall Street não os preocupam. Que não se consiga deter as emissões de carbono, isso não os preocupa. A justiça não os preocupa. A verdade não os preocupa. Uma criança faminta não os preocupa.

Fiódor Dostoyevski em “Crime e Castigo” concebeu o mal absoluto por trás dos anseios humanos não como alguma coisa vulgar, mas como algo extraordinário, como o desejo que permite a homens e mulheres se servirem de sistemas de autoglorificação e cobiça. No romance, Raskolnikov acredita – como os que vivem nos tempos atuais – que o gênero humano pode se dividir em dois grupos. O primeiro se compõe de gente comum, humilde e submissa. Gente comum que faz pouco mais do que se reproduzir segundo a sua própria imagem, envelhecer e morrer. E Raskolnikov despreza essas formas inferiores de vida humana.

O segundo grupo, acredita Raskolnikov, é extraordinário. São os Napoleões do mundo, os que desprezam o direito e os costumes, os que se desvencilham das convenções e tradições para criar um futuro mais refinado, mais glorioso. Raskolnikov argumenta que, mesmo vivendo todos no mesmo mundo, podemos nos libertar das conseqüências de viver com outros, conseqüências que nem sempre estarão a nosso favor. Os Raskolnikovs do mundo põem uma fé desenfreada e total no intelecto humano. Desdenham os atributos de compaixão, empatia, beleza, justiça e verdade. E essa visão demencial da existência humana leva Raskolnikov a assassinar uma agiota e a roubar o seu dinheiro. 

Quando Dante entra na selva escura no Inferno (canto III) ouve os gritos daqueles que “pelo mundo transitaram sem merecer louvor ou execração”, os rejeitados pelo céu e pelo inferno, os que dedicaram suas vidas somente em busca da felicidade. São os “bons”, os que nunca causaram confusões, os que preencheram suas vidas de coisas vãs e vazias, inofensivas talvez, para divertirem-se, que nunca tiveram uma posição perante nada, nunca arriscaram nada e foram somente figurantes. Jamais analisaram suas vidas criticamente, nunca sentiram necessidades, nunca quiseram ver. Os sacerdotes desses templos corporativos, em nome do lucro, matam ainda com mais inclemência, fineza e astúcia do que Raskolnikov.

As corporações deixam que 50.000 pessoas morram a cada ano porque não podem pagar uma assistência médica adequada. Já mataram milhares de iraquianos, afegãos, palestinos e paquistaneses e a isso contemplaram com alegria enquanto quadruplicava o preço das ações dos fabricantes de armamentos. Transformam o câncer numa epidemia nas minas de carvão da Virgínia Ocidental, onde as famílias respiram ar contaminado, bebem água envenenada e observam os Montes Apalaches irem pelos ares, convertendo-os em uma planície deserta enquanto as companhias carboníferas acumulam milhões e milhões de dólares. 

E após saquear o tesouro dos Estados Unidos, essas corporações requerem, em nome da moralidade, que se eliminem programas alimentares para crianças, a ajuda para a calefação, a assistência médica para nossos idosos e a boa educação pública. Reivindicam que toleremos uma classe inferior permanente que deixará em cada seis trabalhadores um sem trabalho, que condena dezenas de milhões de estadunidenses à pobreza e que lança os doentes mentais às grades de calefação. Os que não têm poder, aqueles que as corporações consideram gente comum, são atirados ao lado como lixo humano. É o que exige o “deus mercado”.

E os que perseguem o arco iris brilhante da sociedade de consumo, os que apóiam a ideologia pervertida da cultura consumista, se convertem, como já o sabia Dante, em covardes morais. Têm a cabeça feita por nossos sistemas corporativos de informação e se mantêm passivos enquanto nossos poderes legislativo, executivo e judicial de governo – instrumentos do Estado corporativo – nos retiram a capacidade de resistir. Democratas ou republicanos, liberais ou conservadores. Não há diferença. Barack Obama serve aos interesses corporativos com a mesma diligência de George W. Bush. E colocar nossa fé em algum partido ou instituição estabelecida como mecanismo de reforma é deixarmo-nos hipnotizar pelo mito das sombras nas paredes da caverna de Platão.

Devemos desafiar essa geringonça da cultura do consumo e recuperar a primazia da piedade e da justiça em nossas vidas. E isso requer coragem, não só a coragem física, mas também a coragem moral, o que é mais difícil... A coragem moral de ouvir nossa consciência. Se tivermos que salvar ao nosso país e ao nosso planeta, devemos ultrapassar a exaltação do próprio ego e incorporar a isso o ego do nosso próximo. O auto-sacrifício desafia a doença da ideologia corporativa. O auto-sacrifício destrói os ídolos da cobiça e da inveja. O auto-sacrifício exige que nos rebelemos contra o abuso, contra a ofensa e a injustiça que nos impõem os mandarins do poder corporativo. Há uma profunda verdade na advertência bíblica: “Aquele que ama a sua vida a perderá”

A vida não tem a ver só conosco. Jamais poderemos ter justiça enquanto o nosso próximo não tiver justiça. E jamais poderemos recuperar a nossa liberdade até que estejamos dispostos a sacrificar nosso conforto por uma rebelião aberta. O presidente (Obama) nos decepcionou. Nosso processo de democracia eleitoral nos decepcionou. Não restam estruturas ou instituições que não tenham sido contaminadas ou destruídas pelas corporações. E isto significa que tudo dependerá de nós mesmos. A desobediência civil, que significa dificuldades e sofrimentos, que será longa e difícil, que significa essencialmente auto-sacrifício, é o único recurso que resta. 

Os banqueiros e os gestores de fundos de alto risco, as elites corporativas e governamentais, são a versão moderna dos hebreus desencaminhados que se prostraram diante do bezerro de ouro. A centelha da riqueza brilha diante de seus olhos e os impulsiona cada vez mais rápido para a destruição. E querem que nos prostremos também diante do seu altar. Enquanto nos inspirarmos na cobiça, ela nos manterá cúmplices e em silêncio. Na medida, porém, que desafiemos a religião do capitalismo sem escrúpulos, uma vez que exijamos que a sociedade atenda verdadeiramente as necessidades dos cidadãos e que o ecossistema sustente a vida, ao invés das necessidades do mercado, uma vez que aprendamos a dialogar com uma nova humildade e a viver com uma nova simplicidade, uma vez que amemos ao nosso próximo como a nós mesmos, romperemos as correntes que nos aprisionam e faremos com que a esperança seja percebida.

(*) - Christopher Lynn Hedges é jornalista, autor e correspondente de guerra dos Estados Unidos, especializado em políticas e sociedades dos EUA e Oriente Médio. Seu livro mais recente se intitula “A Morte da Classe Liberal” (2010)


Tradução de Izaías Almada

segunda-feira, 25 de abril de 2011

As lições do fotógrafo Ródtchenko

Está em cartaz até 1º de maio, na Pinacoteca de São Paulo, a exposição de fotos de Alexandr Ródtchenko (1891-1956), maior fotógrafo da Rússia dos primeiros anos da revolução. Ródtchenko foi um dos mais importantes artistas do construtivismo russo, num período histórico turbulento, de guerras e revoluções, e por isso também uma época fértil para as novas visões na arte e as vanguardas estéticas. Visitou diversas formas de arte: a pintura, o design, a fotomontagem e a escultura, até descobrir as possibilidades artísticas da fotografia em 1924.

Ródchenko filho de lavadeira e de um camponês. Seu pai trabalhava num teatro, preparando cenários e decoração dos bailes. Ali passou a ser de fato a casa de Ródchenko. O que o separava do palco era uma escadaria estreita, que dava direto ao vão do teatro. Dizia que a vida do teatro era a vida verdadeira. “O que tinha lá fora – eu não tinha ideia”, recordava. Mas em vez de brinquedos ou máscaras, sua atividade preferida na infância era o desenho. O ambiente das coxias, as luzes do palco e o convívio com os atores se juntaram ao desenho, despertando no rapaz a sensibilidade artística e o levando a entrar mais tarde numa escola de arte.

Seu talento na pintura rebelde e seus traços modernos logo chegaram aos círculos artísticos de vanguarda, criando laços inevitáveis com a arte moderna e uma de suas expressões na Rússia, o construtivismo. Mais tarde, Ródchenko chegou a trabalhar em dois projetos com Tátlin, arquiteto e principal fundador do movimento.

O contato com o poeta futurista Maiakovski também contribuiu para sua formação artística. Ródchenko lembra da importância de ouvir numa assembleia um discurso do poeta, que cinco anos depois viria a se tornar um de seus maiores amigos.

O construtivismo respirava a modernidade. A verticalização das cidades, as novas tecnologias, uma nova visão de mundo inspirada pela revolução socialista na Rússia em 1917. Tudo isso acabou se traduzindo numa arte repleta de movimento, não figurativa, geométrica e sem muitas decorações. Assim como a fotografia, da pintura também não se exigia qualquer representação da realidade, tornando-se uma construção. Celebravam a tecnologia e, acima de tudo, o futuro.


A fotografia construtiva
“A fotomontagem me levou à fotografia”, disse em 1935. Ródtchenko e sua esposa Varvara Stiêpanova fizeram coisas surpreendentes com a fotomontagem, como as ilustrações a pedido de Maiakovski para o Pro Eto, seu poema sobre amor. Outra famosa é a que fez para a editora estatal e também as capas da revista Novi LEF, revista criada em torno da Frente da Esquerda na Arte, da qual Maiakovski e Ródtchenko faziam parte.

Na fotografia, buscava composição em diagonal e ângulos completamente inesperados e radicais, geralmente “de cima para baixo, ou de baixo para cima”, escreveu Ródtchenko à revista Novi LEF. Tais ângulos receberam inclusive o nome de “ângulos de Ródtchenko”.

Ao passear pelas 300 fotos que vieram de Moscou e já estiveram em exposição no Rio de Janeiro, sente-se que elas nos ensinam um olhar diferente. Elas expandem nossa visão do espaço ao redor. São imagens complexas, capturadas no dia a dia, em passeios pela cidade e suas construções, avenidas e pessoas.

Suas fotografias vão do fotojornalismo até cenas do cotidiano e da cidade. Mas não se trata de registro. Ródtchenko foi um dos que sepultou de vez a ideia da fotografia como simples retrato fiel da realidade. Para ele, “a fotografia é uma arte”, como revela no título de um artigo, em 1934. Como forma de expressão artística, Ródtchenko investiga uma linguagem própria para a fotografia “impossíveis de encontrar no desenho ou na pintura”.

No entanto, vale destacar as fotografias que fazia com pessoas, na maioria das vezes com pessoas próximas, como sua companheira. Estes retratos tinham um forte caráter psicológico, em especial os com Maiakovski, tirados em 1924. Num deles, o poeta ganha presença a ponto de podermos pensar que estamos sendo analisados. Outra famosa é o retrato de sua mãe, que aprendia a ler com idade já avançada, em que exalta a força de seu caráter.

Realismo Socialista: a estética como política de Estado
Quando Stálin e a burocracia assumem definitivamente o poder, convertem o sonho de futuro numa idealização de uma cultura proletária, um monopólio estético e empobrecedor da arte, sob a justificativa de se tornar mais compreensível para as massas. Surge o Realismo Socialista, e o Estado aponta suas armas para os artistas que não assumem a política oficial.

A política do Estado para a arte e a cultura possuía ainda uma explicação material. A burocracia precisava manter seus privilégios e construiu uma padronização, na qual todos os conflitos estariam apaziguados. Nesse realismo, o equilíbrio impera sobre os desequilíbrios da natureza humana e da realidade. É negado a angústia, o medo, as inquietações, as rebeldias e desassossegos de seu tempo. Tudo é estático. Tudo segue um manual de cores e formas, e, como propaganda oficial, não é mais capaz de incomodar, de revolucionar. Desta forma, a burocracia também buscava, acima de tudo, o controle social.

O realismo socialista condenou Ródtchenko ao ostracismo, o expulsou da União dos Artistas, e ele passou a fotografar para sobreviver. Perseguido, passa a ser chamado de formalista, um termo pejorativo usado pelo stalinismo para classificar os artistas “pequeno-burgueses”. É acusado de plágio e, anos mais tarde, é obrigado a sair do Outubro, grupo de fotógrafos criado por ele, por “não renunciar ao formalismo”.

Um de seus trabalhos importantes dessa fase foram as fotos da construção do Canal Mar Branco-Báltico. Nele fotografa presos políticos que, sob trabalho forçado, carregavam expressões de dor e sofrimento. Nunca pode ter essas imagens, retidas pelo stalinismo, editadas e usadas como propaganda para uma obra tida como monumental.

Escreveu, em 1943, no seu diário: “Arte é serviço para o povo, mas o povo está sendo levado sabe Deus para onde. Eu quero levar o povo à arte, não usar a arte para levá-lo a algum lugar.”

Os últimos anos de sua vida foram duros. Voltou para a pintura e dessa vez pintando palhaços tristes, insatisfeito com seus traços: “Refaço meus esboços. Não gosto deles. Mas não tenho força para novos” lamentava.

As fotos de Ródtchenko fizeram escola, se tornaram universais e sua vida nos traz lições. Nos calorosos combates com a ideia de se criar uma cultura “pura” e “proletária”, Leon Trotsky condena a tentativa de intervenção do partido na arte. “A arte deve encontrar seu próprio caminho. Os métodos do marxismo não são seus métodos. [...] O campo da arte não está na esfera em que [o partido] é chamado a comandar”, dizia o revolucionário.

Hoje a arte enfrenta problemas. É possível fazer, com ressalvas, uma comparação entre o que foi o realismo socialista e o que é a indústria cultural hoje. A uniformização da arte moldada pelo mercado, esse sufocamento das vanguardas em prol da massificação de uma arte pobre e vulgar, seu papel pacificador e a rápida incorporação ao mercado de qualquer rebeldia artística, movimentos e novas linguagens nos coloca desafios. Ródtchenko é um grande exemplo. Lutar contra o capitalismo e contra toda forma de opressão é também lutar pela libertação da arte.

Mais informações:
Aleksandr Ródtchenko: revolução na Fotografia
19 de fevereiro a 1º de maio
De terça a domingo, das 10h às 17h30
Pinacoteca do Estado de São Paulo (Praça da Luz, 2, São Paulo)
Preço: R$ 6,00 e R$ 3,00 – Gratuito aos sábados
Contato: (11) 3324 1000

FONTE: texto de Victor Pontes, retirado do link http://www.pstu.org.br/cultura_materia.asp?id=12593&ida=0#

Clipe "Ópera do Bom Burguês" - do vídeo "Fulero Circo" da Companhia Estudo de Cena

quarta-feira, 20 de abril de 2011

MANIFESTO EM DEFESA DA FLASKÔ


Pela imediata Declaração de Interesse Social da Flaskô, da Vila Operária e da Fábrica de Cultura e Esportes

Em 12 de junho completam 8 anos da ocupação e controle operário na fábrica Flaskô. Diante da crise capitalista e a decisão dos patrões de fechar a fábrica os operários e operárias levantaram a cabeça e organizaram-se para manter a fábrica funcionando na luta em defesa dos empregos. Ocupando a fábrica e tomando seu controle.

Sem o patrão e a partir do controle operário, da democracia operária, foi reduzida a jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução nos salários.

Sem o patrão, os operários e operárias em conjunto com familias da região organizaram a ocupação do terreno da Fábrica e contróem hoje a Vila Operária e Popular com moradia para mais de 560 famílias.

Sem o patrão, os operários e operárias reativaram um galpão abandonado e iniciram o projeto “Fábrica de Cultura e Esporte”, com teatro, cinema, judô, futebol, balé e dança Além de cursos e atividades de formação

Desde o início os operários defenderam a estatização da fábrica sob controle dos trabalhadores diante das dívidas dos patrões com o estado.

Desde o inicio os operários e operárias se somaram a luta do conjunto da classe trabalhadora. Defendendo a reforma agrária junto com os trabalhadores do campo, defendendo a luta pelas moradias com os operários na cidade, defendendo os direitos e a luta contra o patrões em dezenas e dezenas de fábricas. Defendendo os serviços públicos como saúde e educação junto ao povo e aos trabalhadores do setor publico.

Lutaram desde o inicio pela reestatização das ferrovias junto aos ferroviários, pela reestatização da Vale do Rio Doce e da Embraer, por uma Petrobrás 100% estatal.

Os operários e operarias da Flasko organizaram, junto ao Movimento das Fábricas Ocupadas em conjunto com os operários da Cipla e Interfibra 8 caravanas a Brasília para exigir a estatização da fábrica.

Os operários e operárias organiram conferencias, seminários, encontros nacionais e internacionais, além de manifestações por todo o Brasil sempre discutindo com sua classe os caminhos da luta.

Hoje desenvolvem a Campanha para que a prefeitura Declara a Fábrica e toda a sua área de Interesse Social, dando um passo no caminho da desapropriação das propriedades do patrão para a sua definitiva estatização sob o controle dos trabalhadores.

Por isso convocamos todas as organizações operárias, estudantis, sindicatos, partidos e organizações políticas, personalidades a ajudarem os trabalhadores da Flasko irem a vitória subsescrevendo este manifesto e multiplicando iniciativas de apoio a Declaração de Interesse Social da Flaskô permitindo com isso a regularização de 560 moradias na Vila Operária, permitindo a transformação da Fábrica de Cultura e Esportes num verdadeiro centro cultural e esportivo público, e mais do que tudo isso, estatizando a fábrica, tornando-a pública, sob o controle dos operários que resistem há 8 anos com seu suor e luta.

Sumaré, 07 de abril de 2011.

domingo, 17 de abril de 2011

Um Panorama da Barbárie


Após a chacina na do realengo, que, por caso, repercutiu de forma incontrolável e muitas vezes irresponsável, tanto por conta da mídia "datenista", que, infelizmente, forma massivamente o olhar de grande parte da população, como também o senso comum, que não é formado apenas por esses educados por pastores e fascistas engravatados, mas também por organizações, por exemplo, de defesa aos animais que ao saber que Wellington (atirador) disse num vídeo, durante os planejamentos da barbárie, que doaria sua casa para alguma instituição que prestasse serviços de cuidado aos animais, a resposta foi " Não aceitamos doação de um assassino", não me admira tanto a visão maniqueísta dos citados, mas enfim, de teimoso, insisto em discutir. 

Como iniciei mal o parágrafo anterior, usando um "após" que parecia dar continuidade ao assunto, me redimo agora: Abaixo, fiz um compilado, com uma pequena resenha que escrevi sobre o Filme Elefante de Gus Van Sant e a tragédia de columbine, um ótimo artigo de Daniel Feldmann que fala diretamente sobre a chacina da semana retrasada no Rio de Janeiro e "americanização da violência", e por fim, uma parte do documentário sobre o Ônibus 174 - claro, com todas as ressalvas de nosso bipolar José Padilha.

Bom, a humilde, porém pretensiosa, empreitada, aqui, é trazer à tona uma discussão para além de uma visão maniqueísta e extramamente particular, um recorte de um problema muito maior - claro, que, como maior parte de todas as pessoas que acompanharam o caso, e outros ao redor do mundo de similar situação,também estou horrorizado; bom, o desafio não é fácil. 



" 'Projeto pretende ensinar americanos a não errar tiros' 
Com o lema 'envolva-se em sua vida', proposta defende que o tiro é fundamental para a identidade do país. Além das aulas de tiro, participantes ainda recebem informações históricas sobre América colonial."



Essa matéria foi publicada no uol exatamente no mesmo dia em que assisti ao filme "Elefante", dirigido, roteirizado e editado por Gus Van Sant. Coincidência ou não, achei interessante o fato, já que a crítica na obra é muito mais próxima da matéria citada, do que propriamente o atentado cometido pelos dois garotos - que entraram na escola armados de bombas e metralhadoras, após um cuidadoso plano para execução de alunos, profesores, funcionários, etc.

No filme, cada um dos personagens, todos jovens durante o colegial, é retratado sob uma câmera parecida com aquelas de games como "007", onde os personagens são seguidos ou perseguidos, definindo-os como "terceira pessoa", em longos planos-sequência. Isso possibilita nossa observação sobre eles, sem que saibamos suas personalidades por completo, se são"essencialmente maus", como o atleta popular ou ainda extremamente oprimidos, como a nerd. Isso não importa de fato.

Portanto, a obra não busca traçar a linha entre burros e inteligentes, brancos e negros, democratas e reacionários, nerds e descolados. E nem tenta justificar o atentado dos dois garotos pelo seu comportamento junto ao colégio ou em família. Mas sim, e daí o principal motivo da citação à matéria, o filme desenha o perfil de um país obsessivo pelas armas e que ainda acredita ser o imã centrípeto do mundo.






A TRAGÉDIA DE REALENGO E A “AMERICANIZAÇÃO” DA VIOLÊNCIA
Daniel Feldmann 
Outros artigos deste autor


"Mas todo o drama é que o sonho americano não existe sem a sua contraface de pesadelo: uma sociedade que, a despeito de sua vitalidade e de suas virtudes, tem claros sinais de paranóia e senilidade, frutos dos valores capitalistas..."

Antes de ficar marcado pela horrível tragédia em que Wellington Menezes de Oliveira matou doze crianças e feriu outras doze e depois foi baleado por um policial na Escola Municipal Tasso de Silveira, o bairro do Realengo no Rio havia sido imortalizado na célebre canção de Gilberto Gil “Aquele abraço”:
“O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro fevereiro e março
Alô, alô Realengo, aquele abraço...”


Depois da chacina é inevitável que os versos de Gil soem um tanto datados e contraditórios. Em “Aquele Abraço”, o cantor celebrava a alegria, a simpatia e o caráter amistoso do povo brasileiro, em especial do povo carioca. “Aquele abraço” é uma espécie de hino que exemplifica aquilo que o historiador Sérgio Buarque de Holanda caracterizava como o “homem cordial” brasileiro em seu livro Raízes do Brasil. Nosso “homem cordial” teria valores e atitudes opostas à da cultura anglo-saxônica protestante, marcada pela impessoalidade e distanciamento nas relações humanas. Já o brasileiro, segundo Sérgio Buarque, seria caracterizado pela “lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, que representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro (...)”

Seria um erro supor que o “homem cordial” brasileiro seria sempre alguém pacífico e pacato. Como ressalta o próprio historiador: “Seria engano supor que estas virtudes podem significar `boas maneiras`, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante.” Ou seja, “cordialidade” implica em “agir com coração”, o que pode significar bondade mas também raiva e ódio.

Todavia, sob nenhuma hipótese, a idéia de “homem cordial” é compatível com o massacre do Realengo, brutalmente frio e totalmente impessoal. É necessário, portanto, uma reflexão adequada. A que ponto chegamos? Como o Realengo de Gil se transformou em 7 de abril de 2011 no Realengo de Wellington?

Numa primeira aproximação, poderíamos dizer que Wellington seria um produto de uma “americanização” da violência. Afinal, é dos EUA que sempre recebemos notícias de assassinos e psicopatas que invadem escolas e metralham indiscriminadamente estudantes, como nos mostra o ótimo documentário “Tiros em Columbine” do diretor Michael Moore.

Tal abordagem não deixa de ter seu apelo. Afinal, se incorporamos as mercadorias e a cultura de massa dos EUA, porque também não incorporaríamos suas neuroses e traumas? Todavia, isso ainda não é suficiente para explicar a tragédia do Realengo. Pois o que precisamos urgentemente entender é porque a sociedade brasileira, ela mesma teve de passar por tal tragédia.

Leon Trotsky enfatizou em sua vasta e rica obra o caráter desigual e combinado do capitalismo. Ao mesmo tempo em que o capitalismo reproduz um padrão técnico universal de acumulação do capital, ele convive com formas mais arcaicas de produção, como temos visto na história de países de passado colonial como o nosso. Poderíamos ainda acrescentar que o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo no plano dos valores suscita uma universalização de certos padrões (consumismo, competição, individualismo, etc), ao mesmo tempo em que consegue até certo ponto conviver com padrões culturais específicos dos diferentes países (como caso brasileiro, a “cordialidade”).

Pode-se dizer ainda que nosso país, nas últimas décadas, incorporou profundamente tais valores negativos do capitalismo, ao mesmo tempo em que não alcançamos as condições materiais que poderiam generalizar um dado padrão de vida e de consumo tal qual existe nos países desenvolvidos. Isto, somado à difusão praticamente universal da televisão no Brasil, traz como resultado o fato de que vivemos numa sociedade que é diariamente bombardeada pela propaganda daquilo que não pode possuir e iludida com aquilo que não pode ser. Bombardeio esse que com certeza tem um eco mais forte na nossa juventude. Daí a nossa violência urbana, certamente uma das maiores do mundo, que não se explica apenas pela pobreza de grande parte da população, posto que países mais pobres que o nosso tem um índice de violência muito menor.

“Sim, ganhar dinheiro, ficar rico enfim” como diz o rap dos Racionais. Consumir, competir, ser alguém. Nossa “americanização” tem como pano de fundo um país subdesenvolvido onde muitas das mínimas condições de dignidade (educação, saúde, moradia, empregos decentes, etc...) ainda estão ausentes para enorme parcela do povo. Como se já não bastasse a exclusão que nosso próprio capitalismo produz, nossa juventude tem incorporado recentemente outro “americanismo”, o bullying. Jovens que por qualquer motivo não se enquadram no perfil do “vencedor” (são feios, gordos, homossexuais, estranhos, etc...) sofrem agressões de grupos no bairro ou na escola.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, se apressou em dizer que a tragédia do Realengo era fruto da atitude de um “monstro”, de um “animal”. Certo, quem poderá negar a monstruosidade e animalidade da morte covarde de crianças? Entretanto, reconhecer a inegável insanidade e maldade de Wellington, não responde por si só à questão mais importante: por que é que a nossa sociedade tem criado Wellingtons? Para Cabral, trata-se apenas de isolar os “animais” e “monstros”, como se casos como o de Wellington fossem meros raios em céu azul e não produtos de algo muito mais profundo e preocupante. Pensarmos a tragédia do Realengo sem indagarmos os rumos que a sociedade vem tomando é - além de inútil - uma atitude leviana.

Quem era Wellington? Pouco sabemos, além do fato de que era filho adotivo e depois órfão dos pais, portador de HIV, desprezado na escola, depois desempregado, e que recentemente teria aderido a seitas religiosas. Se é verdade que sua extrema violência e loucura é um caso único e inusitado, por outro lado, quem pode negar que Wellington também era o retrato de uma juventude sem perspectiva, em parte apologista e em parte vítima da “americanização” e dos “bullying”, uma juventude embrutecida pela frustração pessoal do capitalismo ultra-competitivo desse século 21?

Por fim, uma última reflexão sobre o Brasil contemporâneo. É fato que durante o governo do PT houve uma melhoria nas condições de vida de boa parte do povo brasileiro. Não entraremos no mérito da questão aqui, mas é fato que a eleição de Dilma expressa o apoio do povo contra o elitismo do PSDB e a favor de um sentimento geral de que o PT representa melhor os anseios do povo mais pobre e dos trabalhadores em geral.

Ao mesmo tempo, o próprio Lula se gaba de ter promovido no Brasil “um choque de capitalismo”. Ele mesmo afirmou recentemente que, a despeito de suas origens socialistas, seu governo foi o mais capitalista da história brasileira. Ele tem razão, mas ao mesmo tempo, não tirou a nosso ver as conclusões do que realmente está em jogo.

Pois, se é verdade que hoje certos padrões de consumo, antes inacessíveis, fazem parte da vida do brasileiro médio, e se também é verdade que a pobreza diminuiu, o que sem dúvida é positivo, por outro lado, nosso “choque de capitalismo” também tende a reproduzir consigo todos os efeitos perniciosos de um sistema que estimula o consumismo, a exploração, a alienação, a ausência de valores sociais, a competição e o individualismo, ainda mais quando pensamos na fase atual de um capitalismo cada vez mais desregulado, incontrolável e voraz. 

Desse ponto de vista, tem razão o historiador britânico Perry Anderson que em texto recente afirmou que os governos do PT até certo ponto têm sido responsáveis pela tentativa de se reproduzir aqui o “sonho americano”. Não é à toa, aliás, que o governo tem feito referência ao crescimento de uma classe média de massas brasileira, tal como a dos norte-americanos. 

Mas todo o drama é que o sonho americano não existe sem a sua contraface de pesadelo: uma sociedade que, a despeito de sua vitalidade e de suas virtudes, tem claros sinais de paranóia e senilidade, frutos dos valores capitalistas que já mencionamos. Wellington, ironicamente até em seu nome, pode ser nosso elo trágico com tal pesadelo americano. E o resgate do melhor de nossa cordialidade, exige que pensemos num outro sistema econômico que permita o florescimento de outros valores, mais solidários, humanos e elevados: o socialismo.





sexta-feira, 15 de abril de 2011

Retrospectiva do Cinema Baiano, na Cinemateca de São Paulo: "Cidade Baixa"

Hoje, às 18h30, pela Retrospectiva do Cinema Baiano, na Cinemateca de São Paulo:  "Cidade Baixa", de Sérgio Machado (Rio de Janeiro, 2005)

Alice Braga, Lázaro Ramos, Wagner Moura, João Miguel



quinta-feira, 14 de abril de 2011

Circuito de Exibição do Vídeo Popular

Companhia do Latão e Coletivo Vídeo Popular convidam para exibição de vídeos, sexta-feira, dia 15 de abril, a partir das 19h30, no Estúdio do Latão (Rua Harmonia, 931, próximo ao metrô vila madalena).


Qual centro? (doc.15min./2010)
O vídeo debate o projeto de revitalização da região central de São Paulo através da documentação de uma ocupação num posto de gasolina.
Realização: Coletivo Nossa Tela.

FULERO CIRCO (fic.50min/2010)
Depois de tantos maus tratos, de viver entre os ratos e de achar o absurdo legal, a trupe FULERO CIRCO cruza o Brasil para apresentar as aberrações da história.
Realização: Companhia Estudo de Cena.

Abaixo, Carta Manifesto do Coletivo Vídeo Popular elaborada na IV Semana do Vídeo Popular / 18 e 19 de dezembro de 2010 .


1 - Os coletivos e indivíduos que integram o Coletivo de Vídeo Popular de São Paulo são avessos ao modo de vida vigente, regido pelo capital e mediado pela exploração do homem pelo homem em busca do lucro, do poder, da hierarquia, do pragmatismo e utilitarismo de todos os sentidos e ações da vida. Portanto nossa posição é anticapitalista.

2 - Contrários a visão espetacular da arte que estabelece uma divisão entre sociedade e artista, nos afirmamos trabalhadores da cultura. O artista nada mais é do que um trabalhador que emprega sua força de trabalho em processos artísticos. Somos necessários a outros trabalhadores da sociedade, assim como estes são necessários a nós.

3 - O Coletivo de Vídeo Popular de São Paulo entende como prioritário para a plena realização de suas ações estar junto a outros trabalhadores da cultura e integrantes de movimentos sociais que buscam a transformação da realidade, se opondo a visão fragmentária e gestionária dos campos da cultura, da arte e da política.

4 - Agimos e entendemos o audiovisual pela totalidade de seu processo de forma integrada: formação, produção, distribuição e exibição. A formação é a base de nossas ações, estando inserida em todas etapas. A cada processo nos formamos e assim contribuímos com a formação dos outros. Nosso objetivo é a formação como relação; buscamos o conflito.

5 - Na perspectiva da formação interna e busca da transformação social estabelecemos relações de trabalho não hierárquicas e não alienantes, dentro de processos colaborativos de criação que não reproduzam a divisão social do trabalho. Acreditamos que a representação crítica passa antes pela superação da divisão entre trabalho espiritual e trabalho material entre sua equipe de trabalho.  

6 - Não é nosso objetivo estabelecer dogmas estéticos e temáticos. Reconhecemos que o fazer artístico e cultural é um ato político. Somos contrários à política da indústria cultural, que solidifica estereótipos, preconceitos e a visão mercadológica da vida. Somos contrários a “arte pela arte” que isenta seus realizadores da responsabilidade com o contexto social. Tendo isso claro, desejamos toda liberdade ao fazer artístico e cultural!

7 - Não queremos contribuir com o modo de vida vigente, queremos sua superação pela destruição. Entendemos esta luta como processual, coletiva e histórica. 

Não vi e Não gostei: "Tudo de Bom" O filme

WTF?


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Teaser: "The Shining" Stanley Kubrik

Não sou adepto de listas de melhores, seja lá no que for, mas se fosse, esse teaser entraria na lista dos 10 +.(rs). Foda! 


Circuito de Exibição do Vídeo Popular


FONTE: Informativo de imprensa da Companhia do Latão

15/04 - Sexta Feira - 19h30

Exibição dos vídeos:

Qual centro? (doc.15min./2010)
O vídeo debate o projeto de revitalização da região central de São Paulo através da documentação de uma ocupação num posto de gasolina.
Realização: Coletivo Nossa Tela.


FULERO CIRCO (fic.50min/2010)
Depois de tantos maus tratos, de viver entre os ratos e de achar o absurdo legal, a trupe FULERO CIRCO cruza o Brasil para apresentar as aberrações da história.
Realização: Companhia Estudo de Cena.

Local:
Estúdio do Latão
Rua Harmonia, 931(prox. ao metrô Vl. Madalena)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Filme em que Xuxa aparece nua tem direitos disputados na Justiça



No dia 23 de março, um despacho, publicado no Diário da Justiça do Rio de Janeiro, convocou o cineasta Aníbal Massaíni Neto e o advogado Luiz Claudio Moreira, diretor comercial da Xuxa Promoções, a comparecer a uma audiência conciliatória.

Os dois concordaram e devem se encontrar, neste mês, na 2º Vara Cível da Barra da Tijuca (a data ainda não foi agendada). Será a primeira tentativa de pôr fim a um processo que corre desde fevereiro de 2010.

Massaíni, produtor de "Pelé Eterno", e Moreira, braço direito da apresentadora Xuxa Meneghel, brigam pelos direitos do filme "Amor Estranho Amor", de Walter Hugo Khouri (1929-2003).



Produzido por Massaíni --e protagonizado por Tarcísio Meira e Vera Fischer--, o filme, de 1982, tornou-se um "cult" em função de uma cena em que Xuxa, então uma jovem atriz, aparece nua com um menino de 12 anos (à época, ela ainda não apresentava programas infantis).

Relançado em 1987 e 1991, "Amor Estranho Amor" foi assistido por mais de 1 milhão de pessoas. Em 1992, já "rainha dos baixinhos", Xuxa conseguiu proibir, judicialmente, que o filme fosse lançado em vídeo (alegou que o contrato dizia respeito apenas à veiculação em salas de cinema).

Em seguida, para blindar-se em definitivo de seu passado, comprou de Massaíni os direitos para o cinema. Ficou acertado que a renovação seria anual, a um valor de US$ 60 mil (R$ 97 mil).

De 1992, quando o contrato foi firmado, a 2009, quando foi extinto, Massaíni embolsou, pelo silêncio do filme, mais de R$ 1 milhão.

Dois anos atrás, em vez de cobrar o pagamento, aguardou o prazo (17 de maio) expirar. Cinco meses depois, enviou um e-mail a Moreira, alegando que "a não renovação do nosso Instrumento de Cessão implicou em sua extinção".

"Como não me procuraram, fiquei quieto", disse. "Queria relançar o filme."

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cineclube Cinefusão exibe a obra-prima cubana "Morango e Chocolate" de Tomás Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabío


No próximo domingo, dia 10 de abril, às 18h30, o Cineclube Cinefusão exibe a obra-prima cubana "Morango e Chocolate", dos diretores Juan Carlos Tabío e Tomás Gutierrez Alea, o mesmo de "Memórias do Subdesenvolvimento". 

A singela relação construída entre David, um universitário comunista favorável à Revolução Cubana, e Diego, um intelectual homossexual e religioso que tem duras críticas ao governo de Fidel Castro, é o ponto de partida para um profundo filme sobre a complexidade humana e social. 

É essa dualidade que vai sendo construída por Alea e Tabío, mas em nenhum momento de maneira maquiavélica, com a consciência de que estamos diante de dois lados da mesma moeda. 

A exibição dá sequência ao ciclo do Cinefusão "Cinema e Culturas Marginais", que pretende apresentar um panorama de filmes realizados por cineastas de culturas não tão conhecidas e distantes de um senso comum, marcado pelo ocidentalismo europeu e estadunidense, que produz o cinema comercial que é divulgado massivamente. Assim, serão priorizadas obras que nasceram no âmago dessas culturas ou que abordem o modo de vida delas. Esperamos com o ciclo, trazer uma possibilidade de trocas e, principalmente, à luz da barbárie neoliberal, discutir sem qualquer tipo de preconceitos quais são as motivações que levam as sociedades a concepções de mundo tão distintas. A sessão é gratuita e acontece à rua Augusta, 1239, conj 13 e 14.